Tentativa de feminicídio - 26/01/2022 08:49

Salva pela filha, mulher de Blumenau relata terror nas mãos do ex: "Disse que me mataria por amor"

Menina de 12 anos esfaqueou ex-companheiro da mãe para evitar que mulher fosse morta
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Sheila* está viva graças à filha de 12 anos. A mulher, 43, foi vítima de tentativa de feminicídio por parte do ex-companheiro em Blumenau nesta segunda-feira (25) e só não virou estatística porque a menina esfaqueou o agressor para defendê-la. Ainda com fortes dores por causa das lesões sofridas, a moradora do bairro Itoupava Norte relata os minutos de terror que passou diante dos filhos e do temor que ainda sente. 
— Eu terminei o relacionamento justamente por medo de que ele fizesse algo comigo. Ele falou que me mataria porque me amava muito e não queria me ver com mais ninguém. A gente não acredita, até que acontece — diz Sheila. 
Catarinense, a mulher veio trabalhar em Blumenau há cerca de cinco anos. Descobriu um câncer pouco tempo depois, o que a afastou das funções. Desde então, enfrenta a doença e se dedica a cuidar de três filhos mais novos entre os seis que têm: dois adolescentes de 14 e 12 anos e uma criança de três. 
Há quase um ano, conheceu o homem de 28 anos, que havia chegado ao Estado há pouco tempo também em busca de uma oportunidade. Não demorou muito para ambos dividirem o mesmo teto. Sheila lembra que a relação era tranquila. Os filhos gostavam do padrasto e tudo ia bem, exceto quando o parceiro ingeria bebida alcoólica. 
— Ele foi mudando de comportamento aos poucos. Quando bebia, ficava estúpido e mais ciumento. Chegou a quebrar meu celular e me xingar — relembra. 

Depois de uma promessa de deixar de beber, o homem voltou às atitudes agressivas. Sheila não queria ser vítima de violência doméstica e muito menos que os filhos presenciassem brigas. Tomou coragem e, na última sexta-feira (21), pediu que o namorado fosse embora. Com a ajuda de um dos filhos, encontrou uma quitinete para o ex ter onde morar. 

O homem não buscou a chave da nova casa, o que deixou Sheila ainda mais desconfiada de que algo ruim pudesse acontecer. Quando viu o ex no mercado perto da residência dela bebendo, não pestanejou em ligar para a Polícia Militar. 

Sem apoio

A ligação feita ao 190 foi um balde de água fria, conta a mulher. Apesar de ter explicado a situação, ela relata que ouviu do outro lado da linha que uma viatura apenas seria enviada se o homem invadisse o terreno dela. Quando um técnico que instalava um ar-condicionado para Sheila deixou o local, foi exatamente isso que o agressor fez. 

Naquele momento não houve tempo para pedir socorro. 

— Fica o alerta para mudar isso. Quando a mulher liga pela primeira vez que seja dada alguma orientação, um boletim de ocorrência de Maria da Penha. Eu não sabia sobre medida protetiva, sobre o que era possível fazer. Os policiais poderiam ter vindo aqui para verificar. Não tive apoio algum. Chegaram depois que tudo aconteceu — desabafa. 

A agressão

O ex de Sheila chegou dando socos nela. Os filhos de 12 e três anos viram a cena e gritaram por ajuda. A mais velha pegou a sobrinha de oito meses, neta que Sheila estava cuidando, levou até a vizinha e pediu socorro. Quando voltou, viu a mãe ser estrangulada, quase inconsciente. O homem chegou a perfurar a vítima no rosto com um garfo por duas vezes. 
A menina, então, pegou uma faca na cozinha e foi em direção ao ex-padrasto. 
— Quando eu vi ela com a faca tive certeza que ele arrancaria da mão dela e nos mataria. Eu só dizia a ele: “Pelo amor de Deus, olha para mim”, “olha para mim”, para que ele não virasse e notasse minha filha chegando — revela. 
A adolescente deu três golpes nas costas do agressor da mãe, dois deles superficiais. O mais significativo perfurou o pulmão e causou hemorragia. Com a facada, ele caiu e Sheila correu com os filhos para a casa da vizinha. Mesmo ferido, o homem foi atrás dela, mas não aguentou a corrida e parou na rua, de onde esperou o socorro chegar. 

Legítima defesa
Sheila e o ex foram levados a hospitais da cidade. Ela teve diversas lesões pelo corpo, como cortes causados por mordidas no braço, as perfurações feitas por garfo, machucados que surgiram com os socos e a tentativa de estrangulamento. O exame de corpo de delito foi feito nesta terça-feira (25). 
A vítima e a filha foram até a Delegacia de Polícia de Proteção à Mulher, à Criança e ao Adolescente (DPCAMI) e relataram o ocorrido ao delegado Felipe Orsi. Para ele, está claro que houve legítima defesa de terceiros (da filha para proteger a mãe) com o objetivo de evitar um feminicídio. 
Ele pediu a prisão preventiva do homem, que está internado sob escolta policial. 

Recomeço forçado
— Se não fosse ela, ele teria me matado. Minha filha foi muito corajosa — agradece a mãe. 
Agora, a família deve se mudar para um lugar mais seguro. Sheila vai alterar toda a rotina já conhecida pelo ex-companheiro para que ele nunca mais a encontre. Um recomeço forçado pelo medo. 
— Vi muita gente me criticar por colocar um estranho dentro da minha casa. Isso é machismo. Quando escolhemos morar com alguém achamos que vamos ser felizes, não que a pessoa vai tentar te matar. 

O que diz a PM 
O setor de comunicação da Polícia Militar de Blumenau afirmou que uma apuração será feita para avaliar se o procedimento adotado na primeira ligação, antes da invasão à casa de Sheila, foi o correto. A instituição confirmará o que foi dito à vítima e a providência tomada. 

*O nome da vítima foi alterado para preservar a identidade dela.


Fonte: NSC
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